sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um lugar chamado: Cordel do Fogo Encantado


Por Cristian Rangel

Existem algumas bandas capazes de nos tomar por completo, elas têm algo bastante original e ao mesmo tempo nostalgico, por isso o som bate diferentes do das outras bandas, quem não tem uma banda/artista em especial, que quando se esculta sente uma sensação inominável, e boa. Num primeiro momento tive um certo estranhamento, pois era coisa nova e não convencional, um tempo depois foi que deu-se o baque e me peguei imerso naquele universo, talvez essa é um pouco da sensação de todos com suas paixões musicais. Daí catamos cada melodia, sentimos cada palavra e incorporamo-nos a elas de corpo, mente e alma. Há arrepios eufóricos ao ouvir, e inevitavelmente cantar/gritar a maior parte das músicas, tamanha é a identificação,  então afogamos com o som da poesia simplista, porém pungente!

É a sensação de estar num lugar fantástico
Chamado de O Cordel do Fogo Encantado.
Independentemente de tempo e espaço
É possivel ver, sentir, viajar e acessá-lo.
Um tanto quanto pulsante, vivo, árido
É poesia ardente inconstante e mágica

Muitos não puderam se encantar com o fogo do cordel, alguns poucos privilegiados, foram lá e sentiram aquela rima poética ardente inconstante e maravilhosa pulsar, tal como as artérias, dando mais vida ao corpo e acalentando a alma cansada, com batimentos percursivos elétricos, energizantes, vibrações regionais e ao mesmo tempo universais. Um lugar que, como todos os outros, existia tristezas e alegrias mas, que diante do grande espetaculo trágicômico que é a vida não se abidicaram da dor, do amor, da saudade, da água, do fogo com muita habilidade e maestria de transformar todos esses sentimento/elementos na mais pura e simples poesia.

Ao fim desse lugar chamado Cordel do Fogo Encantado, bridaremos à morte e vida, pois ainda é possível sentir aquilo tudo e viver de novo toda essa fantasia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho


Por Cristian Rangel

A falta de pertencimento a um lugar que não comporta o desejo por liberdade do personagem e sua ânsia de conhecer o novo, em um momento de transição complicado entre a adolescência e a fase adulta. Essa é a premissa que irá se desencadear os Os Famosos e os Duendes da Morte de Esmir Filho, já conhecido pela sua experimentação em seus curta-metragens. Criando o cotidiano pacato de uma pequena cidade, que parece não pertencer ao nosso País, vista pelo olhar sutil e melancólico de um adolescente confrontando suas percepções e aspirações, o filme tenta construir uma dicotomia entre a necessidade de expansão/ampliação de horizontes e as incertezas e memôrias daquele lugar bastante presentes na mente do personagem.

A internet como janela para além de fronteiras, que proporciona liberdade e interatividade, porém, cria também relações e aproximações ambíguas: na medida em que são construídas vidas virtuais, um tanto quanto legitimas e/ou duvidosas. As lembranças de um possível amor passado e os conflitos oníricos e existenciais do personagem principal, podem se relacionar a esse universo virtual, pois, ambos são intangíveis e distantes, o que é explicitado no início do filme quando ele escreve/diz “estar perto não é físico”. Ou mesmo quando conta a estória da garota sem perna, se referindo a uma menina com quem se relaciona on line; e o garoto sem nome, ele próprio. Onde o garoto nunca foi levar as pernas da garota e nem ela veio lhe dar um nome. Mesmo nós, espectadores, não sabemos seu nome, o conhecemos apenas pelo pseudônimo Mr. Tambourne Man, referência a música de Bob Dylan, de quem ele é fã.

A dissonância entre o personagem e aquele lugar, e mesmo dele em relação às outras pessoas, se dá de maneira bastante clara, tanto em suas ações, quanto por imagens, quando se perde na neblina ou na lente embassada da câmera. Em sua casa esse destoar se faz mais fortemente, não só pelo silêncio no convívio com a mãe, como também na composição do quadro, onde estão quase sempre em lados opostos, explicitando essa distante relação, exceto quando o vinho que a mãe lhe oferece, quebra um certo gelo e os aproxima, porém, por pouco tempo.

Em determinados momentos, não tão recorrentes, o adolescente consegue esquecer e/ou distrair seu mal estar: na solidão de seu quarto, seu grande refúgio, onde se pode sonhar e expressar sentimentos e inquietações; no silêncio e vazio da madrugada, com seu amigo fumando e de certa forma se libertando temporáriamente, talvez pelo perigo do momento; e por fim, na identificação com Julian, personagem meio fantasmagórico, que assim como ele, destoa de toda a cidade. Todos esses momentos, encontram analógia com a recorrente aparição de estrelas imaginárias, nos três momentos, simbolizando a imensidão do universo e sua vontade de sair daquele lugar. Tal ânsia que cai por terra, na cena em que farelos de pão em um prato preto, dão idéia de constelação estrelar, idéia que é rapidamente desmentida.

O ritmo narrativo é quase arrastado, após a metade do filme, contribuindo também para uma certa perda de expressividade e interação com o espectador. O modo como Esmir explora aquela cidade, não dando muita expressão a ela, também dificulta a identificação com ela e seus personagens.

Ainda assim, Esmir Filho mostra um cinema que tenta fugir de um lugar comum, retratando um ambiente e um tema muito diferente, do recorrente ao cinema brasileiro contemporâneo, bastante urbano e muito centrado no sudeste do pais. Em Os Famosos e os Duendes da Morte, existe um nível de experimentação formal e narrativo. A apropriação do universo lúdico e a transição de fases da vida, são aspectos já evidenciados em seus curta-metragens. No entanto, a sua estréia em longa, traz consigo a refrescância de algo diferente e a princípio um tanto quanto instigante.

Trailer:

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Natimorto, de Paulo Machline

Por Cristian Rangel


Quando se trata de adaptações literárias para o cinema, inevitavelmente todos tratam de comparar as duas obras, qualificando uma em detrimento da outra. No entanto, devemos considerar a distinção que há entre as duas formas de linguagem, para se fazer ponderações mais conscientes sobre elas. O limite entre fidelidade a obra original e criação a partir dela, também é uma questão que merece bastante atenção, porém, creio que se tratando de adaptações é importante verificar se elas sobrevivem e se resolvem, independente uma da outra.


1º longa de Paulo Machline na direção, O Natimorto é uma adaptação do romance homônimo do quadrinista e escritor Lourenço Mutarelli, e teve sua pré-estréia nacional na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Paulo Machline é fiel ao ambiente pesado e um tanto quanto obscuro da obra de Mutarelli, mas deixa um pouco de lado o humor sarcástico, elemento também característico da obra do escritor, para mergulhar profundo na loucura e fumaça da história.


Um caça-talentos traz uma cantora a São Paulo para apresentá-la a um maestro, enquanto esperam a audição em um quarto de hotel, ele, que fuma um maço de cigarros por dia, faz uma interessante relação com as campanhas anti-fumo dos maços e as cartas do tarô, sendo assim, em sua lógica ele prevê o seu dia a partir das imagens das campanhas. Ao se apaixonar pela a cantora (a voz da pureza) ele propõe a ela que passem cinco ou seis anos trancados naquele apartamento sem sair para nada.


O filme nos apresenta uma visão bastante pessimista, as coisas nunca dão certo, são apenas expectativas não saciadas. Tudo se passa no quarto de hotel, o mundo faz parte de um extra-campo obscuro, onde podemos ver seus fragmentos através de flash back’s de um passado, no mínimo, sórdido. O casamento do Agente não deu certo, sua proposta não saiu como ele queria, a audição da Voz não acontece como desejava e o novo relacionamento entre os dois também não dá certo. O filme pode ser visto como uma metáfora do homem e da mulher em relação ao mundo, impressão acentuada pelo fato dos personagens não terem nomes próprios (sendo o Agente, A Voz e a Esposa, que fazem parte de um triangulo amoroso onde todos são distante, mesmo dividindo um mesmo espaço). Ele se fecha em suas certezas e também naquele quarto, com o seu olhar niilista para com o mundo, sempre querendo que entrem no seu jogo esquizofrênico; enquanto ela não se contenta em ver as coisas com os olhos dele, carregando consigo certa esperança e se lança para fora, se arrisca; no entanto, lá fora, o mundo lhe é cruel e o quarto permanece como refugio contra a frieza da vida lá fora e também contra os monstros particulares. E mesmo sabendo que a nicotina pode causar impotência sexual, continuam acendendo mais um cigarro.


O Natimorto é daqueles um filme que, pode-se dizer não possuir tempo de duração, pois permanece mesmo depois de sua exibição, por um tempo na mente do espectador, independente de se gostar ou não dele, tem a força de nos instigar e também é de difícil digestão, quer nos confrontar e requer uma analise mais atenciosa de seus pequenos detalhes.



Trailer:

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas

Por Cristian Rangel

De todos os filmes vistos na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o que mais me indagou, e continua a me instigar, é sem dúvida o longa-metragem Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, que em um primeiro momento me pareceu ser um tanto quanto complexo e meio vago, talvez por ser um filme de grande experimentação, que deveras requer um olhar mais calmo, sem tentativas de conclusões precipitadas. Porém, me deixou muito incucado, mas com o tempo começei a refletir sobre ele e seu potencial discursivo, e o filme se revelou como um angustiante retrato do amor contemporaneo, de seus encontros e desencontros.

Em uma cidade completamente vazia, onde personagens se expõe a um forte calor enquanto, não por acaso, estão a procura de amor; contudo a Insolação aumenta na medida em que os personagens se engendram em suas buscas, mas o amor se faz sempre intangivel, quase que platônico. O filme se apresenta com uma impressão de interação com o espectador, logo no início um personagem nos adverte para não comer comida barulhenta durante a sessão, depois sabemos que se trata de um louco, que discursa sozinho, e que lamenta por sua longa tentativa de amar.

Nesse deserto há chuva, mas não simboliza como contraponto a Insolação, a chuva acentua a dor dos personagens perdidos naquele vazio. O amor é tratado de tal forma, que parece querer nos confronta de frente, propondo uma intensa reflexão sobre os devaneios por loucos sentimentos, como os que estão, de alguma forma, na tela.

Trailer: