sexta-feira, 19 de março de 2010

O amante e a meretriz (fragmento)

Por Marcelo Luiz de Freitas



     Por aquela porta, entravam e saiam diariamente, jovens, adultos, velhos, casados, doentes, solteiros, grávidas, brancos, pardos, negros, loiras, advogados, morenas, pobres, ricos e inúmeros virgens.


     Os corredores estreitos obrigavam os transeuntes a se movimentarem lentamente, trombando uns nos outros. A fragrância de perfumes adocicados, misturada à fumaça de cigarros, aguardente e ao odor de suor causava náusea em alguns, mas para a maioria dos que circulavam por ali, aquilo era o perfume dos deuses. Extremamente excitante e encantador.


     Havia, em um dos cômodos, um bar. Garrafas, de diversos formatos e cores, compunham a decoração. Um grande balcão circulava todo o recinto, delimitando o espaço entre os fregueses e a atendente.


     Todo domingo, depois que saía do serviço, Alice encontrava-se com seu amado e os dois pernoitavam. Ela o esperava na porta da catedral. Assim que chegava, davam as mãos e entravam, ajoelhavam-se perto da imagem de algum santo e por cinco minutos ficavam em absoluto silêncio. Depois de cumprido o ritual, os dois dirigiam-se à casa de Avelino...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Curta

Por 2 ASPIRANTES

Já está em fase final o curta-metragem URBANO, roteirizado e dirigido por Marcelo Luiz de Freitas.

Em breve disponibilizaremos algum material.

domingo, 14 de março de 2010

O silêncio (fragmento)

Por Marcelo Luiz de Freitas

     O silêncio, daquele que seria mais um dia como outro qualquer, foi interrompido por um singelo e majestoso trovão. Ainda fora de si, Lívia manteve-se deitada refletindo o sonho que acabara de ter.

     Os trovões continuaram, delicadamente, a romper o glamuroso e nostálgico silêncio e as pessoas apressavam-se para chegar em casa antes da chuva.

     Ao contrário dos outros, Lívia abriu as portas e janelas de sua casa e saiu, aproveitou aquela paz para caminhar. Levou consigo seu fiel companheiro Godofredo, um cão vira-lata que ela retirou, após anos de maltratos, de um circo. Era diferente de qualquer outro animal, profundo conhecedor de qualquer que fosse o assunto, era gentil, educado e carinhoso. Sua inteligência surpreendia até os mais intelectuais, mas tinha um defeito, era ateu.

     Os trovões, sonoramente perfeitos em um sincronismo acalentador, davam vida àquele lindo e inesquecível dia, o mais perfeito de nossas vidas. Um dia inesquecível, até mais do que o dia em que eles apagaram o sol ...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Crônica Urbana (fragmento)

Por Marcelo Luiz de Freitas

     Esta triste e fria muralha que nos envolve, mantendo-nos encarcerados em verdadeiras trincheiras nas, quais buscamos, inconscientemente, segurança, cresce a cada dia. E por incrível que pareça, cada vez mais me sinto parte dela e ainda assim tornamo-nos estranhos. E por mais que eu caminhe pelas mesmas calçadas, há sempre um novo olho me olhando e este incómodo, este ato prisional, voluntário ou não, é cada vez mais comum e esta náusea é recíproca.

     Pergunto-me todos os dias se ainda caibo nesta imensa falácia a qual muitos de nós nos entregamos sem ao menos questioná-la.
     O mundo é todo dia e todo dia é sempre igual e em iguais nos tornamos.
     São três mil e seiscentos segundos que se juntam a outros incansáveis sessenta minutos que se arrastam por vinte e quatro horas sete dias por semana durante doze meses de um único ano que se fragmenta em pequenas trezentas e sessenta e cinco frações nas quais submeto- me aos caprichos desse sofismo hereditário sufocante que me é empurrado goela abaixo.

      Um dia ainda serei livre [...] besteira, ninguém é livre.