quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma Noite em 67

Por Cristian Rangel


Sem dúvida o contexto cultural e artístico de uma época diz muito dela, é uma parte do todo. Infelizmente estamos pouco interessados no passado do nosso próprio país, da nossa cultura, talvez tenhamos nos alimentado em demasia das culturas que, há muito tempo estão impregnadas em terras tupiniquins. A arte tem o poder de resgatar momentos de veras importantes para que possamos nos situar neste nosso tempo e espaço fragmentados.

É saudável pensar determinada arte em paralelo com o contexto histórico que ela foi produzida, atualmente existe certa reinvenção da arte, raramente nos deparamos com algo que não seja eco de coisas passadas, nas artes o novo a cada dia se distancia da realidade. Vemos surgir várias obras que carregam certo ar inovador, no entanto, em uma analise mais atenciosa podemos ver claramente suas fontes.

Uma Noite em 67 faz jus a sua proposta de resgate histórico de um momento que foi realmente decisivo para a nossa cultura. O 3º Festival da Música Popular Brasileira, aconteceu em meio a enorme efervescência cultural da época, onde o Brasil enfrentava uma ditadura militar de forte censura. A música ia pouco a pouco reconquistando a sua grande aura da liberdade, excitada pelo gosto e desafio de burlar os crivos da censura. Com apresentações realmente memoráveis o festival trouxe grandes sucessos da música popular como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, Domingo no Parque, de Gilberto Gil, Roda Viva, de Chico Buarque além da grande vencedora daquele ano Ponteio, de Edu Lobo.

A grande virtude do filme, em seu estado primordial de documentário, é elevar as suas questões a um patamar mais maduro e crítico. Não caindo na famigerada visão maniqueísta que, busca nada mais que imposições simplórias de contextos históricos bastante complexos. Contrapondo as imagens em Preto e Branco do festival, onde a câmera está sempre distante dos participantes, com os depoimentos atuais dos artistas, que sóbrios, na intimidade de suas casas e com os sinais do tempo exposto nas faces, em decorrência da proximidade da câmera e da sinceridade nos depoimentos.

Trailer: