quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho


Por Cristian Rangel

A falta de pertencimento a um lugar que não comporta o desejo por liberdade do personagem e sua ânsia de conhecer o novo, em um momento de transição complicado entre a adolescência e a fase adulta. Essa é a premissa que irá se desencadear os Os Famosos e os Duendes da Morte de Esmir Filho, já conhecido pela sua experimentação em seus curta-metragens. Criando o cotidiano pacato de uma pequena cidade, que parece não pertencer ao nosso País, vista pelo olhar sutil e melancólico de um adolescente confrontando suas percepções e aspirações, o filme tenta construir uma dicotomia entre a necessidade de expansão/ampliação de horizontes e as incertezas e memôrias daquele lugar bastante presentes na mente do personagem.

A internet como janela para além de fronteiras, que proporciona liberdade e interatividade, porém, cria também relações e aproximações ambíguas: na medida em que são construídas vidas virtuais, um tanto quanto legitimas e/ou duvidosas. As lembranças de um possível amor passado e os conflitos oníricos e existenciais do personagem principal, podem se relacionar a esse universo virtual, pois, ambos são intangíveis e distantes, o que é explicitado no início do filme quando ele escreve/diz “estar perto não é físico”. Ou mesmo quando conta a estória da garota sem perna, se referindo a uma menina com quem se relaciona on line; e o garoto sem nome, ele próprio. Onde o garoto nunca foi levar as pernas da garota e nem ela veio lhe dar um nome. Mesmo nós, espectadores, não sabemos seu nome, o conhecemos apenas pelo pseudônimo Mr. Tambourne Man, referência a música de Bob Dylan, de quem ele é fã.

A dissonância entre o personagem e aquele lugar, e mesmo dele em relação às outras pessoas, se dá de maneira bastante clara, tanto em suas ações, quanto por imagens, quando se perde na neblina ou na lente embassada da câmera. Em sua casa esse destoar se faz mais fortemente, não só pelo silêncio no convívio com a mãe, como também na composição do quadro, onde estão quase sempre em lados opostos, explicitando essa distante relação, exceto quando o vinho que a mãe lhe oferece, quebra um certo gelo e os aproxima, porém, por pouco tempo.

Em determinados momentos, não tão recorrentes, o adolescente consegue esquecer e/ou distrair seu mal estar: na solidão de seu quarto, seu grande refúgio, onde se pode sonhar e expressar sentimentos e inquietações; no silêncio e vazio da madrugada, com seu amigo fumando e de certa forma se libertando temporáriamente, talvez pelo perigo do momento; e por fim, na identificação com Julian, personagem meio fantasmagórico, que assim como ele, destoa de toda a cidade. Todos esses momentos, encontram analógia com a recorrente aparição de estrelas imaginárias, nos três momentos, simbolizando a imensidão do universo e sua vontade de sair daquele lugar. Tal ânsia que cai por terra, na cena em que farelos de pão em um prato preto, dão idéia de constelação estrelar, idéia que é rapidamente desmentida.

O ritmo narrativo é quase arrastado, após a metade do filme, contribuindo também para uma certa perda de expressividade e interação com o espectador. O modo como Esmir explora aquela cidade, não dando muita expressão a ela, também dificulta a identificação com ela e seus personagens.

Ainda assim, Esmir Filho mostra um cinema que tenta fugir de um lugar comum, retratando um ambiente e um tema muito diferente, do recorrente ao cinema brasileiro contemporâneo, bastante urbano e muito centrado no sudeste do pais. Em Os Famosos e os Duendes da Morte, existe um nível de experimentação formal e narrativo. A apropriação do universo lúdico e a transição de fases da vida, são aspectos já evidenciados em seus curta-metragens. No entanto, a sua estréia em longa, traz consigo a refrescância de algo diferente e a princípio um tanto quanto instigante.

Trailer:

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